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Tricolemoma em coelho

Tricholemmoma in a rabbit

Resumos

Tricolemoma é um raro tumor benigno, composto por células epiteliais claras derivadas da bainha externa da raiz do folículo piloso. Esses tumores têm sido descritos no homem e raramente em cães. No presente relato, descreve-se a ocorrência de um tricolemoma, de 1cm de diâmetro em um coelho adulto, cujas características histológicas são muito semelhantes às descritas para esses tumores em cães.

tricolemoma; coelho; tumores foliculares


Tricholemmoma is a rare benign tumor composed of clear epithelial cells derived from the outer root sheath of the hair follicle. The tumor has been described in man and rarely in dogs. This report deals with the occurrence of a tricholemmoma , with a diemeter of 1cm, in an adult rabbit. The histologic features are similar to those described in such tumors in dogs.

tricholemmoma; rabbit; follicle tumors


TRICOLEMOMA EM COELHO

TRICHOLEMMOMA IN A RABBIT

- RELATO DE CASO -

Krishna Duro de Oliveira1 1 Aluno do Curso de Pós-graduação em Medicina Veterinária, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). Ticiana do Nascimento França2 1 Aluno do Curso de Pós-graduação em Medicina Veterinária, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). Alexander Pérez González3 1 Aluno do Curso de Pós-graduação em Medicina Veterinária, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). Paulo Vargas Peixoto4 1 Aluno do Curso de Pós-graduação em Medicina Veterinária, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ).

RESUMO

Tricolemoma é um raro tumor benigno, composto por células epiteliais claras derivadas da bainha externa da raiz do folículo piloso. Esses tumores têm sido descritos no homem e raramente em cães. No presente relato, descreve-se a ocorrência de um tricolemoma, de 1cm de diâmetro em um coelho adulto, cujas características histológicas são muito semelhantes às descritas para esses tumores em cães.

Palavras-chave: tricolemoma; coelho; tumores foliculares.

SUMMARY

Tricholemmoma is a rare benign tumor composed of clear epithelial cells derived from the outer root sheath of the hair follicle. The tumor has been described in man and rarely in dogs. This report deals with the occurrence of a tricholemmoma , with a diemeter of 1cm, in an adult rabbit. The histologic features are similar to those described in such tumors in dogs.

Key words: tricholemmoma; rabbit; follicle tumors.

INTRODUÇÃO

Tricolemomas são raras neoplasias epiteliais benignas que se originam da bainha externa da raiz do folículo piloso. Os tumores primários do folículo piloso podem ter duas origens, a matriz do pêlo, de onde formam-se neoplasias que são subclassificadas de acordo com o grau de diferenciação morfológica, e a bainha externa do pêlo, constituída por células claras, que formam os tricolemomas (HEADINGTON & FRENCH, 1962). Essa neoplasia foi primeiramente descrita no homem, acometendo indivíduos entre 30 e 90 anos (HEADINGTON, 1976), preferencialmente do sexo feminino; localizase tipicamente na face (GOLDMAN & RICHFIELD, 1977) e mede menos de 1cm, podendo ser solitária ou múltipla (LEVER & SCHAUMBURG-LEVER, 1983).

Na literatura veterinária, existem apenas duas referências a esses tumores, ambas na espécie canina. São afetados cães de 5 (DITERS & GOLDSCHMIDT, 1983) a 13 anos (WALSH & CORAPI, 1986), não parecendo haver predisposição sexual ou racial, embora o pequeno número de casos não seja significativo estatisticamente. Macroscopicamente, são representados por massas subcutâneas firmes, ovóides, bem encapsuladas, de crescimento lento, atingindo até 7cm de diâmetro e localizadas sobretudo na cabeça. A pele adjacente ao tumor mostra-se intacta, porém espessada.

Não há relato de metástase ou recidiva pós-cirúrgica nos animais (DITERS & GOLDSCHMIDT, 1983; WALSH & CORAPI, 1986). No homem, observou-se recidiva após excisão cirúrgica incompleta (GOLDMAN & RICHFIELD, 1977). A aparência histológica dos tricolemomas, no cão e no homem, é muito semelhante. São tumores microlobulares formados por células epiteliais claras que, na periferia do lóbulo, apresentam conformação em paliçada, núcleo oval e bordos citoplasmáticos indistintos. No centro dos lóbulos, as células possuem citoplasma mais abundante, levemente granular e eosinofílico, com ocasional queratinização. A grande quantidade de glicogênio confere a essas células o aspecto claro e a reação PAS-positiva. Os lóbulos são envoltos por uma bainha vítrea (membrana basal) acelular, eosinofílica e fortemente PAS-positiva e circundados por estroma fibrovascular de espessura variável (DITERS & GOLDSCHMIDT, 1983; WALSH & CORAPI, 1986; HEADINGTON,1976).

RELATO DO CASO

O presente relato se refere a um nódulo de aproximadamente 1cm de diâmetro, oriundo de um coelho macho adulto, localizado na pele da região dorsal, próxima à inserção da escápula. O material foi remetido ao laboratório em formalina a 10 %. O exame histológico revela uma massa tumoral bem encapsulada, sem relação com a epiderme, formada por pequenos lóbulos de células epiteliais claras. Estas células possuem citoplasma indistinto ou com discreta granulação eosinofílica e núcleo moderadamente cromático, de formato arredondado, oval ou levemente alongado. No centro dos lóbulos, as células apresentam-se concentricamente arranjadas e, na maioria das vezes, queratinizadas. Em parte dos lóbulos, as células da periferia assumem conformação em paliçada, com núcleo basal apresentando forma predominantemente oval e disposição perpendicular à membrana basal.Em algumas áreas, os lóbulos tumorais apresentam maior celularidade e características celulares semelhantes as das células da camada basal da epiderme. Envolvendo as ilhas celulares, observa-se uma membrana basal espessa e eosinofílica, com características semelhantes às da bainha vítrea do folículo normal. O estroma é formado por septos constituídos por moderada quantidade de tecido fibrovascular (figura 1).


DISCUSSÃO

O diagnóstico baseou-se no característico aspecto histológico do tumor. Neoplasias com diferenciação em estruturas semelhantes a pêlos ou a porções dos pêlos incluem tricoepitelioma, tricofoliculoma, pilomatricoma, epitelioma intracutâneo cornificante (WALDER & GROSS, 1992), carcinoma tricolemal, tumor tricolemal proliferante e tricoadenoma, sendo os três últimos só descritos no homem (LEVER & SCHAUMBURG-LEVER, 1983; HEADINGTON, 1976).

A origem exata desses tumores não está totalmente definida, porém todos possuem diferenciação para alguma porção do pêlo ou do folículo piloso (GOLDSCHMIDT & SHOFER, 1992; HEADINGTON, 1976; LEVER & SCHAUMBURG-LEVER, 1983; SCOTT et al., 1995; WALDER & GROSS, 1992; PULLEY & STARNNARD, 1990; WEISS & FRESE, 1974). Em decorrência, considera-se necessária uma breve discussão com relação à aparência histológica desses tumores.

O tricoepitelioma é formado por ilhas de células epiteliais que lembram as da matriz do pêlo e estruturas císticas com paredes compostas por essas células e também por células escamosas, em proporção variável, cujo lúmen pode conter “célulasfantasma” queratinizadas e queratina amorfa; esse tumor diferencia-se do tricolemoma, sobretudo por não ser formado principalmente por células claras e por apresentar estroma abundante e as estruturas císticas características. Tricofoliculoma é uma neoplasia cística formada por várias estruturas, lembrando folículos imaturos que convergem para o centro do cisto, o qual, por sua vez, pode abrir-se na superfície da pele, formando um poro. Seu padrão celular, predominantemente basalóide, e sua organização estrutural são típicos (SCOTT et al., 1995; WALDER & GROSS, 1992). Pilomatricoma, também denominado pilomatrixoma, tumor de Malherbe, ou ainda epitelioma necrotizante e calcificante, é um tumor formado, na maioria das vezes, por múltiplas estruturas císticas compostas por células semelhantes às da matriz do pêlo. A maior parte dessas células sofre queratinização abrupta (célulasfantasma ou células-sombra) preenchendo o lúmen do cisto; essas células freqüentemente se calcificam.

A grande quantidade dessas células e a calcificação diferenciam esta neoplasia. O epitelioma intracutâneo cornificante é constituído por células basalóides e escamosas, sendo as últimas predominantes. Pequenos cistos queratinizados são interconectados por trabéculas de células epiteliais e projetam-se para um cisto queratinizado central que, usualmente, abre-se para a superfície da pele formando um poro (GOLDSCHMIDT & SHOFER, 1992; SCOTT et al., 1995; WALDER & GROSS, 1992; WEISS & FRESE, 1974). A variante maligna do tricolemoma, denominada carcinoma tricolemal, também é formada por células claras. No entanto, apresenta atipia nuclear e contigüidade com a epiderme que, em geral, encontra-se ulcerada (LEVER & SCHAUMBURG-LEVER, 1983). O tumor tricolemal proliferante é formado por lóbulos irregulares de células epiteliais escamosas que possuem leve grau de anaplasia nuclear. Alguns desses lóbulos apresentam organização estrutural semelhante à do tricolemoma, podendo ser diferenciado, basicamente, pelo tipo celular, já que o aparecimento de células claras nesse tumor é ocasional. Queratinização abrupta e calcificação no centro dos lóbulos são pontos importantes para o diagnóstico (LEVER & SCHAUMBURG-LEVER, 1983; HEADINGTON, 1976). O tricoadenoma é formado por numerosos cistos córneos cuja parede é composta por células epiteliais eosinofílicas; algumas ilhas são constituídas inteiramente por essas células. Embora apresente padrão lobular, as características celulares são muito distintas das do tricolemoma (LEVER & SCHAUMBURG-LEVER, 1983).

Dado o típico aspecto histológico observado na presente neoplasia, conclui-se que se trata de um tricolemoma, tumor benigno, raro no homem e nos animais e ainda não descrito em coelhos. Nesse caso, observam-se características histológicas em tudo semelhantes às dos tricolemomas descritos nos cães. No homem, entretanto, esses tumores, apesar de possuírem o mesmo tipo celular, apresentam lóbulos maiores e mais celulares, havendo também, em alguns pontos, contigüidade com a epiderme e com o epitélio folicular o que não ocorre no caso descrito e nem no dos cães.

2 Médico Veterinário, Professor Substituto do Departamento de Nutrição e Pastagens, Instituto de Zootecnia, UFRRJ.

3 Aluno de Pós-Graduação em Medicina Veterinária, UFRRJ.

4 Médico Veterinário, Pesquisador 1C do CNPq, Doutor, Professor Titular do Departamento de Epidemiologia e Saúde Pública, UFRRJ, 23851-970, km 47 da Antiga Rio-São Paulo, Seropédica, RJ. Autor para correspondência.

Recebido para publicação em 07.07.98. Aprovado em 09.09.98

  • DITERS, R.W., GOLDSCHMIDT, M.H.: Hair follicle tumors resembling tricholemmomas in six dogs. Veterinary Pathology, v.20, p.123-125, 1983.
  • GOLDMAN, L., RICHFIELD, D.F. Tricholemmoma clinical lesions. Archieves Dermatology, v. 11, p. 107-108, 1977.
  • GOLDSCHMIDT, M.H., SHOFER, F.S. Skin tumors of the dog & cat Pergamon Press, 1992. p. 109-130.
  • HEADINGTON, J.T., FRENCH, A.J.: Primary neoplasms of the hair follicle. Archieves of Dermatology, v. 86, p. 430-441, 1962.
  • HEADINGTON, J.T. Tumors of the hair follicle. American Journal of Pathology, v. 85, p. 480-514, 1976.
  • LEVER, W.F., SCHAUMBURG-LEVER, G. Histopathology of the skin 6 ed. Lippincott, 1983. p. 522-589.
  • PULLEY, L.T., STANNARD, A.A. Tumors of the skin and soft tissues. In: Moulton, J.E. Tumors in domestic animals 3 ed. University of California Press, 1990. p. 23-87.
  • SCOTT,D.W., MILLER, W.H., GRIFFIN,C.E.. Neoplastic and non-neoplastic tumors. In: Small Animal Dermatology 5 ed, Philadelphhia: Saunders, 1995. p. 991-1126.
  • WALDER, E.J., GROSS, T.L. Follicular tumors. In: GROSS, T.L., IHRKI, P.J., WALDER, E.J.. Veterinary Dermatopathology Mosby Year Book, 1992. p. 351-371.
  • WALSH, K.M., CORAPI, W.V. Tricholemmomas in three dogs. Journal Comparative Pathology, v. 96, p. 115-117, 1986.
  • WEISS, E, FRESE, K. Tumors of the skin. Bulletim of the World Health Organization v. 50, n. 1-2, p. 79-100, 1974.
  • 1
    Aluno do Curso de Pós-graduação em Medicina Veterinária, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ).
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      15 Dez 2006
    • Data do Fascículo
      Jun 1999

    Histórico

    • Aceito
      09 Set 1998
    • Recebido
      07 Jul 1998
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