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Efeitos do uso do Kinesio® Taping na marcha de indivíduos pós-acidente vascular encefálico: uma revisão sistemática com metanálise

Efectos del uso de Kinesio® Taping en la marcha de invidíduos post-accidente cerebrovascular: una revision sistemática con meta-análisis

RESUMO

O Kinesio® Taping (KT) vem sendo utilizado na reabilitação de pacientes pós-acidente vascular encefálico (AVE) e vários estudos recentes têm investigado seus efeitos na marcha destes indivíduos, reportando resultados promissores. Investigou-se, por meio de uma revisão sistemática da literatura, os efeitos do uso do KT na marcha de indivíduos pós-AVE. As buscas foram realizadas nas bases de dados MEDLINE, CINAHL, SPORTDiscus, Web of Science, LILACS e PEDro, sem restrição de data ou idioma de publicação. Os artigos foram selecionados de forma independente por dois avaliadores e discordâncias foram resolvidas por um terceiro. A qualidade metodológica foi avaliada de acordo com a escala PEDro. Quando possível, as medidas de desfecho foram analisadas utilizando o programa Comprehensive Meta-Analysis, Versão 3.0. Foram incluídos quinze estudos de qualidade metodológica baixa a moderada (média de 4,7). Para velocidade de marcha, foram incluídos na metanálise sete estudos de qualidade metodológica baixa a moderada que, sob o modelo de efeitos fixos, encontrou que o KT aumentou significativamente a velocidade de marcha dos indivíduos pós-AVE em 0,05 m/s (95% IC 0,002 a 0,100; I2 = 0%; p<0.05). No entanto, para o comprimento do passo, mobilidade funcional e equilíbrio não houve diferença significativa (p>0,05). Esta revisão sistemática da literatura demonstrou que ainda não existem evidências sobre o uso do KT na reabilitação de pacientes pós-AVE com o objetivo de melhorar a marcha. Embora a velocidade de marcha, segundo a metanálise, tenha apresentado um ganho estatisticamente significativo, seu valor não pode ser considerado clinicamente relevante para os pacientes.

Descritores:
Bandagens Compressivas; Acidente Vascular Cerebral; Marcha; Reabilitação; Revisão

RESUMEN

El Kinesio® Taping (KT) que esta siendo utilizado en la rehabilitación de pacientes post-accidente cerebrovascular (ACV) y varios estudios recientes tienen investigado sus efectos en la marcha de estes individuos, reportándose resultados promisores. Se investigó por medio de una revisión sistemática de la literatura, los efectos de uso del KT en la marcha de individuos post-ACV. Las búsquedas fueron realizadas en las bases de datos Medline, CINAHL, SPORTDiscus, Web of Science, LILACS y PEDro, sin restricción de fecha o lengua de publicación. Los artículos fueron elejidos de forma independiente por dos evaluadores y desacuerdos fueron resueltos por un tercero. La calidad metodológica fue evaluada de acuerdo con la escala PEDro. Cuando posible, las medidas de conclusión fueron analizadas utilizando el programa Comprehensive Meta-Analysis, versión 3.0. Fueron incluidos 15 estudios de calidad metodológica baja a moderada (media de 4,7). Para velocidad de marcha, fueron incluidos en el meta-análisis siete estudios de calidade metodológica baja a moderada que, bajo el modelo de efectos fijos, se observió que el KT aumentó significativamente la velocidad de marcha de los individuos post-ACV en 0,05 m/s (95% IC 0,002 a 0,100; I2=0%; p<0.05). Sin embargo, para la longitud de paso, movilidad funcional y equilibrio no hubo diferencia significativa (p>0,05). Esta revisión sistemática de la literatura demostró que aun no existan evidencias sobre el uso del KT en la rehabilitación de pacientes post-ACV con el objectivo de mejorar la marcha. Aunque velocidad de marcha, según el meta-análisis, tenga presentado un gano estadisticamente significativo, su valor no pudo ser considerado clinicamente relevante para los pacientes.

Palabras clave:
Vendajes Compresivos; Accidente Cerebrovascular; Marcha; Rehabilitación; Revisión

ABSTRACT

Kinesio Taping (KT) has been used in the rehabilitation of post CVA patients and several recent studies have investigated its effects on the gait of these subjects, reporting promising results. We investigated the effects of the use of KT in the gait of stroke subjects through a systematic review of the literature. Searches were conducted on databases Medline, CINAHL, SPORTDiscus, Web of Science, LILACS and PEDro, without restrictions of date or language of publication. The articles were screened independently by two evaluators and disagreements were resolved by a third party. Methodological quality was assessed according to PEDro scale. When possible, outcome measures were analyzed using the program Comprehensive Meta-Analysis, version 3.0. We included 15 studies of low to moderate methodological quality (mean 4.7). For gait speed, we included 7 studies of low to moderate methodological quality in the meta-analysis that, under the model of fixed effects, found that the KT significantly increased the gait speed of post-stroke subjects in 0.05 m/s (95%CI 0.002 to 0.100; I2=0%; p<0.05). However, for the step length, functional mobility and balance no significant difference was found (p>0.05). This systematic literature review showed there are still no evidence about the use of KT in rehabilitation of post-stroke patients in order to improve the gait. Although gait speed, according to the meta-analysis, have shown a statistically significant gain, its value cannot be considered clinically relevant to patients.

Keywords:
Compression Bandages; Stroke; Gait; Rehabilitation; Review

INTRODUÇÃO

O acidente vascular encefálico (AVE) é definido como uma disfunção neurológica aguda, de origem vascular, com início rápido dos sintomas, que variam segundo a região afetada do cérebro11 World Health Organization. Recommendations on stroke prevention, diagnosis, and therapy. Report of the WHO task force on stroke and other cerebrovascular disorders. Stroke. 1989;20(10):1407-31. doi: 10.1161/01.STR.20.10.1407.
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. Dentre os prejuízos causados pelo AVE, as deficiências motoras são as mais incapacitantes22 Olney SJ, Richards CL. Hemiparetic gait following stroke. Part I: characteristics. Gait Posture. 1996;4(2):136-48. doi: 10.1016/0966-6362(96)01063-6.
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, limitando a execução de atividades cotidianas como a marcha, por exemplo. Dentre os sobreviventes ao AVE, apenas 15% relatam conseguir deambular fora de casa dois anos após a lesão, e 70% apresentam alguma dependência para a marcha33 Skilbeck CE, Wade DT, Hewer RL, Wood VA. Recovery after stroke. J Neurol Neurosurg Psychiatry. 1983;46(1):5-8. doi: 10.1136/jnnp.46.1.5.
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. Assim, essa atividade é considerada pelos pacientes a mais importante durante a reabilitação, sendo, portanto, uma constante preocupação dos terapeutas durante este processo33 Skilbeck CE, Wade DT, Hewer RL, Wood VA. Recovery after stroke. J Neurol Neurosurg Psychiatry. 1983;46(1):5-8. doi: 10.1136/jnnp.46.1.5.
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.

Na reabilitação da marcha de indivíduos pós-AVE, o fisioterapeuta dispõe de algumas técnicas com a finalidade de reabilitar as deficiências motoras e, assim, ajudar o paciente a melhorar os padrões de movimento44 Chiou IL, Burnett CN. Values of activities of daily living: a survey of stroke patients and their home therapists. Phys Ther. 1985;65(6):901-6. doi: 10.1093/ptj/65.6.901.
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. Dentre essas técnicas, o Kinesio® Taping (KT) vem sendo atualmente utilizado na reabilitação desses indivíduos. Também conhecido como bandagem elástica, o KT é confeccionado em algodão, que permite evaporação e rápida secagem sem perder a efetividade, com capacidade adesiva acrílica e ativada pelo calor do corpo55 Langhammer B, Stanghelle JK. Bobath or motor relearning programme? A follow-up one and four years post stroke. Clin Rehabil. 2003;17(7):731-4. doi: 10.1191/0269215503cr670oa.
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. O mecanismo de ação do KT está relacionado com a direção e a força de tensão aplicada55 Langhammer B, Stanghelle JK. Bobath or motor relearning programme? A follow-up one and four years post stroke. Clin Rehabil. 2003;17(7):731-4. doi: 10.1191/0269215503cr670oa.
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. De acordo com Kenzo Kase, criador do KT, a aplicação da técnica proporciona correção da função muscular por fortalecer músculos fracos, estimulo cutâneo que facilita ou limita o movimento, auxílio na redução de edema por direcionar exsudatos em direção a ducto linfático e linfonodos, correção do posicionamento articular por amenizar espasmos musculares e redução da dor por vias neurais55 Langhammer B, Stanghelle JK. Bobath or motor relearning programme? A follow-up one and four years post stroke. Clin Rehabil. 2003;17(7):731-4. doi: 10.1191/0269215503cr670oa.
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)- (88 Castro-Sánchez AM, Lara-Palomo IC, Matarán-Peñarrocha GA, Fernández-Sánchez M, Sánches-Labraca N, Arroyo-Morales M. Kinesio Taping reduces disability and pain slightly in chronic non-specific low back pain: a randomised trial. J Physiother. 2012;58(2):89-95. doi: 10.1016/S1836-9553(12)70088-7.
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. Além disso, também objetiva melhorar a fisiologia muscular, a propriocepção, a coordenação e o equilíbrio55 Langhammer B, Stanghelle JK. Bobath or motor relearning programme? A follow-up one and four years post stroke. Clin Rehabil. 2003;17(7):731-4. doi: 10.1191/0269215503cr670oa.
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), (66 Kase K, Wallis J, Kase T. Clinical therapeutic applications of the Kinesio Taping method. Texas: Kinesio USA LLC, 2013.), (77 Paoloni M, Bernetti A, Fratocchi G, Mangone M, Parrinelo L, Del Pilar Cooper M, et al. Kinesio Taping applied to lumber muscles influences clinical and electromyographic characteristics in chronic low back pain patients. Eur J Phys Rehabil Med. 2011;47(2):237-44.), (88 Castro-Sánchez AM, Lara-Palomo IC, Matarán-Peñarrocha GA, Fernández-Sánchez M, Sánches-Labraca N, Arroyo-Morales M. Kinesio Taping reduces disability and pain slightly in chronic non-specific low back pain: a randomised trial. J Physiother. 2012;58(2):89-95. doi: 10.1016/S1836-9553(12)70088-7.
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.

Devido às propostas de efeitos promissoras do uso do KT, estudos têm sido desenvolvidos a fim de se investigar a eficácia dessa técnica na marcha de diferentes populações. Em indivíduos saudáveis ou com lesões musculoesqueléticas, por exemplo, embora estudos isolados tenham demonstrado resultados positivos do KT99 Kaya E, Zinnuroglu M, Tugcu I. Kinesio taping compared to physical therapy modalities for the treatment of shoulder impingement syndrome. Clin Rheumatol. 2011;30(2):201-7. doi: 10.1007/s10067-010-1475-6.
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), (1010 Bicici S, Karatas N, Baltaci G. Effect of athletic taping and kinesiotaping(r) on measurements of functional performance in basketball players with chronic inversion ankle sprains. Int J Sports Phys Ther. 2012;7(2):154-66., revisões sistemáticas recentes não suportam o uso desse método na reabilitação da marcha dessas populações1111 Parreira PC, Costa LC, Hespanhol Junior LC, Lopes AD, Costa LO. Current evidence does not support the use of Kinesio Taping in clinical practice: a systematic review. J Physiother. 2014; 60(1):31-9. doi: 10.1016/j.jphys.2013.12.008.
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), (1212 Morris D, Jones D, Ryan H, Ryan CG. The clinical effects of Kinesio(r) Tex taping: a systematic review. Physiother Theory Pract. 2013;29(4):259-70. doi: 10.3109/09593985.2012.731675.
https://doi.org/10.3109/09593985.2012.73...
), (1313 Mostafavifar M, Wertz J, Borchers J. A systematic review of the effectiveness of kinesio taping for musculoskeletal injury. Phys Sportsmed. 2012;40(4):33-40. doi: 10.3810/psm.2012.11.1986.
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. Para indivíduos pós-AVE, estudos também têm investigado os efeitos do KT sobre a marcha e também reportaram resultados promissores1414 Boeskov B, Carver LT, Essen-Leise A, Henriksen M. Kinesthetic taping improves walking function in patients with stroke: a pilot cohort study. Top Stroke Rehabil. 2014;21(6):495-501. doi: 10.1310/tsr2106-495.
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), (1515 Rojhani-Shirazi Z, Amirian S, Meftahi N. Effects of ankle kinesio taping on postural control in stroke patients. J Stroke Cerebrovasc Dis. 2015;24(11):2565-71. doi: 10.1016/j.jstrokecerebrovasdis.2015.07.008.
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. No entanto, uma recente revisão sistemática que objetivou investigar os efeitos do KT em indivíduos pós-AVE1616 Grampurohit N, Pradhan S, Kartin D. Efficacy of adhesive taping as an adjunt to physical rehabilitation to influence outcomes post-stroke: a systematic review. Top Stroke Rehabil. 2015;22(1):72-82. doi: 10.1179/1074935714Z.0000000031.
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encontrou três estudos relacionados à aplicação dessa técnica com o objetivo de melhorar a marcha desses indivíduos e concluiu que as evidências ainda são insuficientes. Entretanto, as buscas dessa revisão foram realizadas há aproximadamente três anos, período em que muitos estudos foram publicados posteriormente. Além disso, sempre que possível, a revisão sistemática deve incluir uma metanálise1717 Herbert R, Jamtvedt G, Hagen K, Mead J, Chlamers SI. Practical evidence-based physiotherapy. Edinburgh; New York: Butterwoth-Heinemann, 2008., análise estatística que permite quantificar os resultados de vários estudos para uma métrica padrão e fornecer respostas imediatas a pesquisadores, clínicos e pacientes1818 Thomas JR, Nelson JK, Silverman SJ. Métodos em pesquisas e atividade física. 6. ed. Porto Alegre: Artmed, 2012..

Dessa forma, baseados nos fatos expostos, conclui-se que uma atualização da literatura sobre o assunto é necessária. Assim, o objetivo deste estudo é realizar uma revisão sistemática da literatura a fim de se investigar os efeitos do uso do KT, por meio da metanálise, na marcha de indivíduos pós-AVE.

METODOLOGIA

Identificação e seleção dos estudos

Este estudo consiste em uma revisão sistemática da literatura de ensaios clínicos aleatorizados ou controlados. As buscas, realizadas entre os meses de janeiro a julho de 2016, foram conduzidas nas seguintes bases de dados: Medline, CINAHL, SPORTDiscus, Web of Science, LILACS e PEDro, sem restrição de data ou idioma de publicação. Os termos de pesquisa incluíram palavras relacionadas com AVE, hemiplegia, isquemia, hemiparesia, KT e bandage, além de seus respectivos termos em inglês, com estratégias específicas para cada base. Os artigos foram selecionados de forma independente por dois avaliadores e discordâncias foram resolvidas por um terceiro. As cópias dos textos completos desses estudos foram obtidas e as listas de referências rastreadas por uma busca manual para identificar outros estudos relevantes. Cópias indisponíveis foram solicitadas aos autores via e-mail.

Avaliação das características dos estudos

Qualidade: A qualidade metodológica dos estudos incluídos foi avaliada de acordo com a escala PEDro, descrita na base de dados Physiotherapy Evidence Database (www.pedro.org.au). A escala, composta de onze itens, foi desenvolvida para classificar a qualidade metodológica (validade interna e informações estatísticas) de ensaios clínicos aleatorizados. Cada item, exceto o primeiro, contribui com um ponto para a pontuação total da escala, que varia de zero a dez pontos. Foi utilizada a pontuação dos estudos descrita no endereço eletrônico da base de dados. A pontuação dos estudos não incluídos ou não pontuados na base de dados PEDro foi realizada pelos autores deste estudo.

Participantes: Foram incluídos ensaios envolvendo participantes adultos, após AVE, de ambos os sexos e sem limite de idade. Foram registradas informações sobre o número de participantes, sexo, idade e tempo após o AVE.

Intervenção: A condição experimental foi o uso do KT, sem restrição em relação à direção e tensão de aplicação ou cor da fita, com o objetivo de melhorar a marcha de indivíduos pós-AVE. A condição controle foi nenhuma, uma intervenção placebo, fisioterapia convencional ou a aplicação de outra técnica para comparação de efeitos.

Medidas de desfecho: As medidas de interesse foram quaisquer relacionadas à performance da marcha, como velocidade, cadência, comprimento do passo, equilíbrio etc.

Análise dos dados

Informações sobre o método dos estudos (ou seja, desenho do estudo, participantes, intervenção e medidas de desfecho) e resultados (ou seja, número de participantes e a média/desvio padrão das variáveis relacionadas à marcha) foram extraídas por dois avaliadores independentes e verificadas por um terceiro. Foram utilizadas medidas de pós-intervenção devido à disponibilidade de somente esses valores na maioria dos estudos, utilizando preferencialmente o fixed effects model. No caso de heterogeneidade estatisticamente significativa (I 2>40%), o tamanho de efeito foi analisado utilizando o random effects model. As análises foram realizadas utilizando o programa Comprehensive Meta-Analysis, versão 3.0. O valor crítico para rejeitar H0 foi fixado a um nível de significância de 5% (2-tailed). Informações necessárias não foram encontradas na versão publicada dos estudos, detalhes adicionais foram solicitados ao autor de correspondência por e-mail. Quando os dados não estavam disponíveis para serem incluídos na metanálise, a diferença entre os grupos de comparação foi apenas descrita.

RESULTADOS

Características dos estudos incluídos

A estratégia de busca retornou 774 estudos. Desses, 732 foram excluídos após leitura dos títulos, 22 após a leitura dos resumos e cinco após a leitura dos textos completos. A busca manual não retornou nenhum artigo e, assim, o número final de estudos incluídos neste trabalho foi 151414 Boeskov B, Carver LT, Essen-Leise A, Henriksen M. Kinesthetic taping improves walking function in patients with stroke: a pilot cohort study. Top Stroke Rehabil. 2014;21(6):495-501. doi: 10.1310/tsr2106-495.
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), (1515 Rojhani-Shirazi Z, Amirian S, Meftahi N. Effects of ankle kinesio taping on postural control in stroke patients. J Stroke Cerebrovasc Dis. 2015;24(11):2565-71. doi: 10.1016/j.jstrokecerebrovasdis.2015.07.008.
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), (1919 Nam CW, Lee JH, Cho SH. The effect of non-elastic taping on balance and gait function in patients with stroke. J Phys Ther Sci. 2015;27(9):2857-60. doi: 10.1589/jpts.27.2857.
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), (2020 Carda S, Invernizzi M, Baricich A, Cisari C. Casting, taping or stretching after botulinum toxin type. A for spastic equinus foot: a single-blind randomized trial on adult stroke patients. Clin Rehabil. 2011;25(12):1119-27. doi: 10.1177/0269215511405080.
https://doi.org/10.1177/0269215511405080...
), (2121 Ekiz T, Aslan MD, Özgirgin N. Effects of Kinesio Tape application to quadriceps muscles on isokinetic muscle strength, gait, and functional parameters in patients with stroke. J Rehabil Res Dev. 2015;52(3):323-31. doi: 10.1682/JRRD.2014.10.0243.
https://doi.org/10.1682/JRRD.2014.10.024...
), (2222 Kim WI, Choi YK, Lee JH, Park YH. The effect of muscle facilitation using Kinesio Taping on walking and balance of stroke patients. J Phys Ther Sci. 2014;26(11):1831-4. doi: 10.1589/jpts.26.1831.
https://doi.org/10.1589/jpts.26.1831...
), (2323 Choi YK, Nam CW, Lee JH, Park YH. The effects of taping prior to PNF treatment on lower extremity proprioception of hemiplegic patients. J Phys Ther Sci. 2013;25(9):1119-22. doi: 10.1589/jpts.25.1119.
https://doi.org/10.1589/jpts.25.1119...
), (2424 Pratim DB. A study of effects of gluteal taping on TD-parameters following chronic stroke patients. In J Phys Occup Ther. 2011;5(1):36-9.), (2525 Maguire C, Sieben JM, Frank M, Romkes J. Hip abductor control in walking following stroke - the immediate effect of canes, taping and TheraTogs on gait. Clin Rehabil. 2010;24(1):37-45. doi: 10.1177/0269215509342335.
https://doi.org/10.1177/0269215509342335...
), (2626 Hillier SL, Masters R. Does taping control the foot during walking for people who have had a stroke? Intl J Ther Rehabil. 2005;12(2):72-7. doi: 10.12968/ijtr.2005.12.2.17458.
https://doi.org/10.12968/ijtr.2005.12.2....
), (2727 Hwang YI, An DH. Immediate effects of an elastic arm sling on walking patterns of chronic stroke patients. J Phys Ther Sci. 2015;27(1):35-7. doi: 10.1589/jpts.27.35.
https://doi.org/10.1589/jpts.27.35...
), (2828 Hyun KH, Cho HY, Lim CG. The effect of knee joint Mulligan taping on balance and gait in subacute stroke patients. J Phys Ther Sci. 2015;27(11):3545-7. doi: 10.1589/jpts.27.3545.
https://doi.org/10.1589/jpts.27.3545...
), (2929 Karadag-Saygi E, Cubukcu-Aydoseli K, Kablan N, Ofluoglu D. The role of kinesiotaping combined with botulinum toxin to reduce plantar flexors spasticity after stroke. Top Stroke Rehabil. 201017(4):318-22. doi: 10.1310/tsr1704-318.
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), (3030 Kilbreath SL, Perkins S, Crosbie J, McConnell J. Gluteal taping improves hip extension during stance phase of walking following stroke. Aust J Physiother. 2006;52(1):53-6. doi: 10.1016/S0004-9514(06)70062-9.
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), (3131 Reiter F, Danni M, Lagalla G, Ceravolo G, Provinciali L. Low-dose botulinum toxin with ankle taping for the treatment of spastic equinovarus foot after stroke. Arch Phys Med Rehabil. 1998;79(5):532-5. doi: 10.1016/S0003-9993(98)90068-5.
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. A principal razão para exclusão dos estudos foi: uso de animais, uso de remédios, estudos em outras condições clínicas que não o AVE e estudos com outros tipos de intervenção que não o KT. A Figura 1 representa o fluxograma de seleção dos estudos, com cada etapa realizada.

Figura 1
Fluxograma de inclusão e exclusão dos estudos

Os estudos incluídos encontram-se sumarizados no Quadro 1, sendo doze estudos-ensaio contendo grupo controle e experimental, e três estudos contendo apenas grupo intervenção. A qualidade metodológica dos estudos encontrados variou de baixa a alta. O escore médio alcançado pelos estudos na escala PEDro foi de 4,7, variando de 1 a 7 pontos. Todos os estudos foram realizados com amostra de conveniência em pacientes que sofreram AVE sem limite de idade ou sexo. Os estudos incluíram 416 pacientes vítimas de AVE, com idade entre 28 e 81 anos, agrupados em grupos mistos formados por homens e mulheres. Os programas de treinamento variaram desde medidas agudas feitas com teste antes e pós-intervenção a até 1, 2 e 3 meses de acompanhamento. Dentre os estudos que reportaram o local de aplicação do KT, foi utilizada fita elástica aplicada nos glúteos, quadríceps, articulação do joelho, patela, tibial anterior e posterior, tornozelo, bíceps braquial e rotadores superiores da escapula.

Quadro 1
Síntese dos estudos incluídos

Efeito do KT na marcha de indivíduos pós-acidente vascular encefálico

Os resultados descritivos de todos os estudos encontram-se no Quadro 1. Em relação à metanálise, os efeitos do KT foram avaliados para as medidas de velocidade de marcha, comprimento do passo, mobilidade funcional e equilíbrio. Dentre os estudos que avaliaram essas medidas de desfecho, cinco que avaliaram a velocidade de marcha1414 Boeskov B, Carver LT, Essen-Leise A, Henriksen M. Kinesthetic taping improves walking function in patients with stroke: a pilot cohort study. Top Stroke Rehabil. 2014;21(6):495-501. doi: 10.1310/tsr2106-495.
https://doi.org/10.1310/tsr2106-495...
), (2020 Carda S, Invernizzi M, Baricich A, Cisari C. Casting, taping or stretching after botulinum toxin type. A for spastic equinus foot: a single-blind randomized trial on adult stroke patients. Clin Rehabil. 2011;25(12):1119-27. doi: 10.1177/0269215511405080.
https://doi.org/10.1177/0269215511405080...
), (2424 Pratim DB. A study of effects of gluteal taping on TD-parameters following chronic stroke patients. In J Phys Occup Ther. 2011;5(1):36-9.), (2626 Hillier SL, Masters R. Does taping control the foot during walking for people who have had a stroke? Intl J Ther Rehabil. 2005;12(2):72-7. doi: 10.12968/ijtr.2005.12.2.17458.
https://doi.org/10.12968/ijtr.2005.12.2....
), (2929 Karadag-Saygi E, Cubukcu-Aydoseli K, Kablan N, Ofluoglu D. The role of kinesiotaping combined with botulinum toxin to reduce plantar flexors spasticity after stroke. Top Stroke Rehabil. 201017(4):318-22. doi: 10.1310/tsr1704-318.
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) e quatro que avaliaram o comprimento do passo2424 Pratim DB. A study of effects of gluteal taping on TD-parameters following chronic stroke patients. In J Phys Occup Ther. 2011;5(1):36-9.), (2525 Maguire C, Sieben JM, Frank M, Romkes J. Hip abductor control in walking following stroke - the immediate effect of canes, taping and TheraTogs on gait. Clin Rehabil. 2010;24(1):37-45. doi: 10.1177/0269215509342335.
https://doi.org/10.1177/0269215509342335...
), (2929 Karadag-Saygi E, Cubukcu-Aydoseli K, Kablan N, Ofluoglu D. The role of kinesiotaping combined with botulinum toxin to reduce plantar flexors spasticity after stroke. Top Stroke Rehabil. 201017(4):318-22. doi: 10.1310/tsr1704-318.
https://doi.org/10.1310/tsr1704-318...
), (3131 Reiter F, Danni M, Lagalla G, Ceravolo G, Provinciali L. Low-dose botulinum toxin with ankle taping for the treatment of spastic equinovarus foot after stroke. Arch Phys Med Rehabil. 1998;79(5):532-5. doi: 10.1016/S0003-9993(98)90068-5.
https://doi.org/10.1016/S0003-9993(98)90...
) não puderam ser incluídos na metanálise por não terem grupo controle ou por não apresentarem nos resultados os valores médios encontrados, ou não reportarem as medidas de variabilidade. Assim, todos os estudos incluídos na metanálise avaliaram a velocidade de marcha e o comprimento do passo, pelo teste de velocidade de marcha de 10 metros (sete estudos), a mobilidade funcional, pelo teste Timed Up and Go (TUG) (três estudos), e o equilíbrio pela Escala de equilíbrio de Berg (cinco estudos).

Para a velocidade de marcha, foram incluídos sete estudos de qualidade metodológica baixa a moderada (média PEDro de 4,6, variando de 3 a 5) que, sob o modelo de efeitos fixos, encontrou que o KT aumentou significativamente a velocidade de marcha dos indivíduos pós-AVE em 0,05 m/s (95% IC 0,002 a 0,100; I2=0%; p<0.05), quando comparado com nada ou uma intervenção placebo (Gráfico 1). No entanto, também sob o modelo de efeitos fixos, o uso do KT em indivíduos pós-AVE não aumentou significativamente o comprimento do passo (três estudos de qualidade metodológica baixa a moderada, média PEDro de 4,7 - MD 0,03 95% IC -0,01 a 0,07; I2=0%; p=0.19), a mobilidade funcional (três estudos de qualidade metodológica moderada a alta, média PEDro de 5,3 - MD 2,38 95% IC -5,99 a 1,23; I2=0%; p=0.20) e equilíbrio (cinco estudos de qualidade metodológica também moderada a alta, média PEDro de 5,2 - MD 3,00 95% IC -8,58 a 2,58; I2=18,3%; p=0.29), quando comparado com nada ou uma intervenção placebo (Gráfico 2).

Gráfico 1
Forest plot para os efeitos do Kinesio® Taping na velocidade de marcha de indivíduos pós-AVE

Gráfico 2
Forest plot para os efeitos do Kinesio® Taping no comprimento do passo, mobilidade funcional e equilíbrio de indivíduos pós-AVE

DISCUSSÃO

Esta revisão sistemática teve o objetivo de analisar os efeitos do KT durante a marcha de pacientes pós-AVE. A dificuldade na marcha é a contribuição mais importante para a incapacidade a longo prazo devido a fatores como velocidade e tamanho do passo reduzidos, falta de equilíbrio e dificuldade de mudar a direção de deslocamento. O KT, segundo seus criadores, seria uma ferramenta importante atuando na minimização desses efeitos deletérios causados pelo AVE, melhorando, assim, o padrão da marcha e a qualidade de vida dos pacientes. No entanto, foram encontradas diferenças significativas na metanálise somente para a velocidade de marcha destes indivíduos, não encontrando efeito do KT sobre medidas de comprimento do passo, mobilidade funcional e equilíbrio desses pacientes.

Para a velocidade de marcha, foi encontrada uma melhora significativa do KT para os pacientes pós-AVE, baseado em sete estudos de qualidade metodológica baixa a moderada. Além disso, cinco estudos não puderam ser incluídos na metanálise1414 Boeskov B, Carver LT, Essen-Leise A, Henriksen M. Kinesthetic taping improves walking function in patients with stroke: a pilot cohort study. Top Stroke Rehabil. 2014;21(6):495-501. doi: 10.1310/tsr2106-495.
https://doi.org/10.1310/tsr2106-495...
), (2020 Carda S, Invernizzi M, Baricich A, Cisari C. Casting, taping or stretching after botulinum toxin type. A for spastic equinus foot: a single-blind randomized trial on adult stroke patients. Clin Rehabil. 2011;25(12):1119-27. doi: 10.1177/0269215511405080.
https://doi.org/10.1177/0269215511405080...
), (2424 Pratim DB. A study of effects of gluteal taping on TD-parameters following chronic stroke patients. In J Phys Occup Ther. 2011;5(1):36-9.), (2626 Hillier SL, Masters R. Does taping control the foot during walking for people who have had a stroke? Intl J Ther Rehabil. 2005;12(2):72-7. doi: 10.12968/ijtr.2005.12.2.17458.
https://doi.org/10.12968/ijtr.2005.12.2....
), (2929 Karadag-Saygi E, Cubukcu-Aydoseli K, Kablan N, Ofluoglu D. The role of kinesiotaping combined with botulinum toxin to reduce plantar flexors spasticity after stroke. Top Stroke Rehabil. 201017(4):318-22. doi: 10.1310/tsr1704-318.
https://doi.org/10.1310/tsr1704-318...
, tendo seus resultados somente descritos nesta revisão. Dentre esses cinco estudos, três reportaram que a velocidade de marcha melhorou significativamente1414 Boeskov B, Carver LT, Essen-Leise A, Henriksen M. Kinesthetic taping improves walking function in patients with stroke: a pilot cohort study. Top Stroke Rehabil. 2014;21(6):495-501. doi: 10.1310/tsr2106-495.
https://doi.org/10.1310/tsr2106-495...
), (2020 Carda S, Invernizzi M, Baricich A, Cisari C. Casting, taping or stretching after botulinum toxin type. A for spastic equinus foot: a single-blind randomized trial on adult stroke patients. Clin Rehabil. 2011;25(12):1119-27. doi: 10.1177/0269215511405080.
https://doi.org/10.1177/0269215511405080...
), (2626 Hillier SL, Masters R. Does taping control the foot during walking for people who have had a stroke? Intl J Ther Rehabil. 2005;12(2):72-7. doi: 10.12968/ijtr.2005.12.2.17458.
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. Além disso, redução no número de passos, aumento da estabilidade articular das extremidades inferiores, melhora no contato de calcanhar e controle da inversão do tornozelo e redução na duração do passo e da fase de balanço com consequente redução da duração global da marcha também foram alterações significativas encontradas nos grupos de KT1414 Boeskov B, Carver LT, Essen-Leise A, Henriksen M. Kinesthetic taping improves walking function in patients with stroke: a pilot cohort study. Top Stroke Rehabil. 2014;21(6):495-501. doi: 10.1310/tsr2106-495.
https://doi.org/10.1310/tsr2106-495...
), (2020 Carda S, Invernizzi M, Baricich A, Cisari C. Casting, taping or stretching after botulinum toxin type. A for spastic equinus foot: a single-blind randomized trial on adult stroke patients. Clin Rehabil. 2011;25(12):1119-27. doi: 10.1177/0269215511405080.
https://doi.org/10.1177/0269215511405080...
), (2626 Hillier SL, Masters R. Does taping control the foot during walking for people who have had a stroke? Intl J Ther Rehabil. 2005;12(2):72-7. doi: 10.12968/ijtr.2005.12.2.17458.
https://doi.org/10.12968/ijtr.2005.12.2....
. Baseados nesses resultados, o KT poderia ser um complemento útil para a reabilitação física, permitindo o aumento dos ganhos na marcha desses pacientes, com resultados mais rápidos ou em amplitudes maiores durante a reabilitação. No entanto, embora os resultados pareçam promissores para essa medida de desfecho, é importante ressaltar que mudanças na velocidade de marcha menores que 0,1 m/s, embora possam ser estatisticamente significativas, conforme verificado nesta revisão, não são consideradas clinicamente relevantes3232 Purser JL, Weinberger M, Cohen HJ, Pieper CF, Morey MC, Li T, et al. Walking speed predicts health status and hospital costs for frail elderly male veterans. J Rehabil Res Dev. 2005;42(4):535-46.. Isso significa que esse aumento na velocidade de 0,05 m/s não é uma melhora que os pacientes percebam como importante. Além disso, dois estudos não encontraram melhora significativa para a velocidade de marcha2424 Pratim DB. A study of effects of gluteal taping on TD-parameters following chronic stroke patients. In J Phys Occup Ther. 2011;5(1):36-9.), (2929 Karadag-Saygi E, Cubukcu-Aydoseli K, Kablan N, Ofluoglu D. The role of kinesiotaping combined with botulinum toxin to reduce plantar flexors spasticity after stroke. Top Stroke Rehabil. 201017(4):318-22. doi: 10.1310/tsr1704-318.
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, reforçando que tais resultados ainda devem ser melhor investigados. Por fim, a qualidade metodológica dos estudos incluídos na metanálise é de baixa a moderada, o que reforça a cautela na interpretação de seus resultados.

Em relação ao comprimento do passo, não foi encontrada melhora significativa do KT para os pacientes pós-AVE, baseado em três estudos também de qualidade metodológica baixa a moderada. Além disso, quatro estudos também não puderam ser incluídos na metanálise2424 Pratim DB. A study of effects of gluteal taping on TD-parameters following chronic stroke patients. In J Phys Occup Ther. 2011;5(1):36-9.), (2525 Maguire C, Sieben JM, Frank M, Romkes J. Hip abductor control in walking following stroke - the immediate effect of canes, taping and TheraTogs on gait. Clin Rehabil. 2010;24(1):37-45. doi: 10.1177/0269215509342335.
https://doi.org/10.1177/0269215509342335...
), (2929 Karadag-Saygi E, Cubukcu-Aydoseli K, Kablan N, Ofluoglu D. The role of kinesiotaping combined with botulinum toxin to reduce plantar flexors spasticity after stroke. Top Stroke Rehabil. 201017(4):318-22. doi: 10.1310/tsr1704-318.
https://doi.org/10.1310/tsr1704-318...
), (3131 Reiter F, Danni M, Lagalla G, Ceravolo G, Provinciali L. Low-dose botulinum toxin with ankle taping for the treatment of spastic equinovarus foot after stroke. Arch Phys Med Rehabil. 1998;79(5):532-5. doi: 10.1016/S0003-9993(98)90068-5.
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, tendo seus resultados somente descritos neste trabalho revisão. Dentre estes quatro estudos, não houve melhora estatisticamente significativa no comprimento do passo em três deles2424 Pratim DB. A study of effects of gluteal taping on TD-parameters following chronic stroke patients. In J Phys Occup Ther. 2011;5(1):36-9.), (2525 Maguire C, Sieben JM, Frank M, Romkes J. Hip abductor control in walking following stroke - the immediate effect of canes, taping and TheraTogs on gait. Clin Rehabil. 2010;24(1):37-45. doi: 10.1177/0269215509342335.
https://doi.org/10.1177/0269215509342335...
), (2929 Karadag-Saygi E, Cubukcu-Aydoseli K, Kablan N, Ofluoglu D. The role of kinesiotaping combined with botulinum toxin to reduce plantar flexors spasticity after stroke. Top Stroke Rehabil. 201017(4):318-22. doi: 10.1310/tsr1704-318.
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, corroborando os resultados encontrados na metanálise. Finalmente, em relação à mobilidade funcional e equilíbrio, também não foi encontrada melhora significativa do KT para os pacientes pós AVE para ambas as medidas, baseadas em três e cinco estudos, respectivamente, de qualidade metodológica moderada a alta. No entanto, além de também ser importante ressaltar aqui a qualidade metodológica dos artigos incluídos, o TUG e a Escala de Equilíbrio de Berg são medidas que incluem múltiplas tarefas. Dessa forma, quanto mais complexa for a execução de uma atividade, maior o número de funções corporais envolvidas e, assim, menor a probabilidade de apenas uma intervenção isolada melhorar significativamente a performance nessa atividade.

Por fim, outras medidas de desfecho além das investigadas na metanálise foram analisadas por esses estudos. Dentre estas, podemos citar a Functional Ambulation Categories, distância percorrida no teste de caminhada de seis minutos, contato de calcanhar e controle da inversão do tornozelo, cadência, comprimento do passo largo, extensão do quadril, Straight Line Walking Test, eletromiografia e duração da fase de apoio, sendo que em todas houve melhora significativa nestes estudos. No entanto, comprimento do passo largo, cadência e distância percorrida no teste de caminhada de seis minutos, além do Rivermead Mobility Index e largura do passo também foram investigadas em outros estudos que não encontraram melhora significativa. Estes resultados refletem as discordâncias presentes na literatura em relação à eficácia do KT em indivíduos pós AVE. Além disso, a variedade de medidas de desfecho investigadas e protocolos aplicados dificulta a realização da metanálise para todas essas variáveis reportadas, impossibilitando o fornecimento de respostas concretas e confiáveis.

Em relação a estudos prévios, os achados desta revisão estão em acordo com os de revisões sistemáticas prévias que também não encontraram efeitos do KT em indivíduos pós-AVE1616 Grampurohit N, Pradhan S, Kartin D. Efficacy of adhesive taping as an adjunt to physical rehabilitation to influence outcomes post-stroke: a systematic review. Top Stroke Rehabil. 2015;22(1):72-82. doi: 10.1179/1074935714Z.0000000031.
https://doi.org/10.1179/1074935714Z.0000...
e em outras populações1111 Parreira PC, Costa LC, Hespanhol Junior LC, Lopes AD, Costa LO. Current evidence does not support the use of Kinesio Taping in clinical practice: a systematic review. J Physiother. 2014; 60(1):31-9. doi: 10.1016/j.jphys.2013.12.008.
https://doi.org/10.1016/j.jphys.2013.12....
), (1212 Morris D, Jones D, Ryan H, Ryan CG. The clinical effects of Kinesio(r) Tex taping: a systematic review. Physiother Theory Pract. 2013;29(4):259-70. doi: 10.3109/09593985.2012.731675.
https://doi.org/10.3109/09593985.2012.73...
), (1313 Mostafavifar M, Wertz J, Borchers J. A systematic review of the effectiveness of kinesio taping for musculoskeletal injury. Phys Sportsmed. 2012;40(4):33-40. doi: 10.3810/psm.2012.11.1986.
https://doi.org/10.3810/psm.2012.11.1986...
. Aparentemente, o crescente uso do KT é devido principalmente a campanhas de marketing maciças realizadas pelos meios de comunicação, ignorando a necessidade de pesquisas de alta qualidade, ou seja, evidências científicas com resultados clinicamente relevantes1111 Parreira PC, Costa LC, Hespanhol Junior LC, Lopes AD, Costa LO. Current evidence does not support the use of Kinesio Taping in clinical practice: a systematic review. J Physiother. 2014; 60(1):31-9. doi: 10.1016/j.jphys.2013.12.008.
https://doi.org/10.1016/j.jphys.2013.12....
. Alguns autores de ensaios clínicos com o KT chegam, inclusive, a recomendar o uso da técnica, mesmo quando seus dados não identificaram nada significativo1111 Parreira PC, Costa LC, Hespanhol Junior LC, Lopes AD, Costa LO. Current evidence does not support the use of Kinesio Taping in clinical practice: a systematic review. J Physiother. 2014; 60(1):31-9. doi: 10.1016/j.jphys.2013.12.008.
https://doi.org/10.1016/j.jphys.2013.12....
. Assim, os profissionais devem avaliar com cautela os custos e a eficácia dessa intervenção ao decidir pela sua utilização.

Enfim, podemos citar alguns pontos fortes e baixos desta revisão sistemática. Como limitações, primeiramente, ressalta-se a baixa qualidade metodológica dos estudos incluídos. Além disso, observa-se também o baixo número de participantes por grupo (de 9 a 20), a diversidade de protocolos e locais de aplicação do KT, além da falta de informações em alguns estudos acerca do tipo de fita utilizada e técnica de aplicação (direção, tensão colocada e cor da fita). Por outro lado, a heterogeneidade entre os estudos em relação à amostra e às medidas de desfecho incluídas na metanálise foi baixa. Todos os estudos incluídos na metanálise, por exemplo, incluíram apenas indivíduos hemiparéticos adultos, com deambulação limitada (<0,8m/s). Além disso, para todas as medidas de desfecho incluídas na metanálise, todos os estudos investigaram velocidade de marcha, comprimento do passo, mobilidade e equilíbrio pelos mesmos testes, o que potencializa a veracidade dos resultados encontrados.

Como sugestão de estudos futuros, ressalta-se a necessidade de ensaios clínicos randomizados e bem controlados, com pacientes e avaliadores cegados e cálculo amostral adequado a fim de se esclarecer os reais efeitos do KT na reabilitação da marcha de pacientes neurológicos. Somente a realização de ensaios clínicos de alta qualidade metodológica, sumarizados em uma revisão sistemática com metanálise poderão gerar resultados confiáveis e, assim, definir se o KT é ou não uma ferramenta eficiente para a reabilitação da locomoção em pacientes pós-AVE.

CONCLUSÃO

Esta revisão sistemática da literatura demonstrou que ainda não existem evidências sobre o uso do KT na reabilitação de pacientes pós-AVE com o objetivo de melhorar a marcha. Os estudos, que em sua maioria são de baixa a moderada qualidade metodológica, apresentaram resultados antagônicos e, assim, inconclusivos. Além disso, a metanálise também evidenciou que o KT na melhora da velocidade da marcha, comprimento do passo, mobilidade funcional e equilíbrio não é uma ferramenta eficaz. Embora velocidade de marcha, segundo a metanálise, tenha apresentado um ganho estatisticamente significativo, seu valor não pode ser considerado clinicamente relevante para os pacientes. No entanto, devido à baixa qualidade metodológica dos artigos, recomenda-se a realização de mais estudos a fim de se esclarecer se, de fato, o KT não é eficaz na reabilitação da marcha dessa população.

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    Estudo desenvolvido na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) - Belo Horizonte (MG), Brasil.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jun 2017

Histórico

  • Recebido
    Dez 2016
  • Aceito
    Mar 2017
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